Existem várias etapas e vários desafios que temos de passar e ultrapassar até nos sentirmos verdadeiramente confortáveis com esta história da maternidade.
Assim que passamos a estar confortáveis, tudo muda da noite para o dia.
Não não, não são os dois anos. Não são os dentes. Não é a entrada na escola.
Um dia acordei e tinha uma adolescente em casa. Pior que isso é ouvir - dos mais velhos e sapientes pais - que isto ainda piora e só vou no início.
Subitamente tenho muitas saudades das noites mal dormidas e de andar de rabo para o ar à procura de chupetas e oós para acalmar a fera. Agora só funciona um de dois: gelado ou compras. Ou dinheiro.
E eu que não tenho margem financeira para subornos!
Que remédio temos nós se não criá-los. E ouvir frases como: "oh Mãe deixa-me ir ao cinema SOZINHA com aquele rapaz do DÉCIMO PRIMEIRO ANO que eu acho super giro, ele vem-me buscar a casa, vá lá!" - e quando olhas, está maquilhada (nem eu me sei maquilhar assim), de calções com 10cm de comprimento (estou a ser simpática) unhas arranjadas e perfumada. Mas referir o primeiro nome do dito cujo está quieto, isso é um pormenor secundário.
Há que aguentar e guiá-los, deixá-los descobrirem o seu próprio caminho (escusa de ser numa sala de cinema) e deixá-los errar como todos erram.
Mas é assustador. Primeiro porque reviram os olhos estilo exorcista numa média de 5 em 5 segundos.
Segundo, porque a argumentação parece ser infindável, salvo se existir uma chamada de vídeo no WhatsApp que possa interromper o diálogo.
Terceiro, porque tudo o que dissermos vai ter efeito contrário:
"Não fumes". A sério?
"Nada de relações sexuais." Todos sabemos como isso termina.
"Não bebas bebidas alcoólicas". É só virar as costas.
"Afasta-te das drogas". Equivalente a dizer a um leão, não, não comas essa zebra indefesa e deitada no meio do chão.
E a psicologia inversa parece-me encorajar em demasia:
"Podes fumar à vontade, sabes o mal que faz". A tabaqueira aplaude esta iniciativa certamente.
"Podes ter relações sempre que quiseres" Totalmemte a favor da natalidade, mas escusa de ser antes de se poder tirar a carta. E terminar a faculdade. E os irmãos terminarem a faculdade. E começarem a trabalhar.
"Bebe um copito!" Mais vale dar-lhes a garrafa para a mão.
"Uma ganza nunca fez mal a ninguém". Nunca. Palavra nunca, recorda-vos alguma coisa?
Tenho a certeza que vou falhar 50.000 vezes nesta etapa, que ou não vou ser interventiva o suficiente ou vou ser chata a mais... mas dia após dia vou procurar aquele pequeno minúsculo momento do tamanho de um electrão que me faça ver que isto da maternidade, até vale a pena!
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