Sou Mãe de três, cada qual na sua “fase” mais ou menos fácil (
convenhamos, prefiro ver isto pela positiva que pela negativa), o que significa que estou em minoria – viva a matemática óbvia – e frequentemente assoberbada por estas criaturas.
A vida com três (
ou mais), em diferentes fases ou em fases próximas, leva a que…
1.
Esteja cansada (
duh).
Embora 99% das vezes ninguém dê por nada, funciono estilo piloto automático e com o mote “Se parar caio”
Desde que nasceu o meu caçula que não tenho uma noite completa de sono (
2 anos e qualquer coisa, aceito qualquer condenação por não saber os meses exactos nem conseguir raciocinar neste momento).
Uma noite delirante será aquela em que acordo somente uma ou duas vezes. Seja pelo V, seja pelas necessidades urinárias do L., que insiste em que tem de pedir permissão para ir à WC do meu quarto TODOS os dias pelas 2 da manhã. Sim,
admito, há dias em que tenho vontade de lhe mandar dois berros. As Mães também têm os seus momentos de descontrole, sobretudo em regime de privação de sono! Dormir até às 7h45 durante o fim de semana será o mais perto do paraíso que me permitem chegar.
2.
Esteja envergonhada algumas vezes.
Nomeadamente quando vou com os três ao supermercado.
Ok, um à vez, a coisa passa: o mais novo fica contido dentro do carrinho, sem hipótese de fuga – problema resolvido. Quando é com o do meio, utilizo a técnica da responsabilidade: “Filho, terás de ajudar a Mãe. Vamos tentar ser rápidos e fazemos disto uma corrida! E a Mãe sem a tua ajuda e a tua memória esquece-se de metade das coisas” – Verdade. Tem uma memória preciosa. Quando é com a mais velha, já só funciona o suborno. “Queres ir ao concerto daqueles feiosos? Ok, acarta e busca, ready set go!”. Já não existe pedagogia possível.
Quando é com os três, sinto a proximidade ao que será ser um polvo. Ora estico-me para que a mais velha largue o TLM e as selfies na zona das bolachas com o Hastag
#oqueamãemeproibedecomer; ora estico-me para conter o do meio de desatar a correr estilo Faísca McQueen por todos os corredores, eventualmente desaparecendo da minha vista; ora estico-me para encolher os braços ao mais novo, que utiliza a sua flexibilidade e falta de noção que o carrinho é alto, para retirar
TODOS os produtos que consegue alcançar na prateleira. Já aconteceram acidentes dramáticos com ovos. Quando acontecem as três coisas ao mesmo tempo - além da triste realização que apenas possuo dois braços e um deles tem de segurar o carrinho – ainda recebo os olhares de desaprovação dos demais transeuntes. Aquele olhar de: “
não tivesses três.”
3.
Esteja com aquele aspecto de quem saiu da cama.
Sim, as minhas avós de 90 e 92 anos batem-me aos pontos no que toca ao arranjo e compostura. Estão sempre impecavelmente arranjadas, com as unhas arranjadas, maquilhagem, cabelo penteado, roupa a combinar. Eu, no auge dos meus 35 anos, apresento-me frequentemente sem maquilhagem nenhuma, de rabo de cavalo (
ou coque, vale-me os conhecimentos dos ballet para safar os dias em que nem tenho tempo de lavar o cabelo), com umas tentativas de combinação de peças (
mal sucedidas algumas vezes) – mas aqui é preciso dar um desconto… Ora:
Tomo banho em 2 minutos e arranjo-me em 3, é o que me resta da minha manhã de andar a fazer comidas, arranjar lancheiras, correr atrás de um, berrar à outra, limpar fluidos do chão, retirar bebé de cima de móveis, limpar rabinhos, mudar aquela fralda da última hora, tentar moldar um cabelo à André Silva / Tiquinho Soares / Ronaldo / Afins (
peço desculpa aos mais sensíveis futebolísticos se houver erro nos nomes), procurar aquele brinquedo específico que tem de ser levado para a escola sob pena de ter de sossegar um berreiro, estender roupa, tirar loiça, tirar jantar………..
Unhas? Desde o Verão que não arranjo. Credo.
4.
Esteja desmemoriada. Adoro este termo.
Mas é verdade. Fora as vezes em que arrumo o iogurte na despensa, o papel higiénico no frigorífico…. Ainda passo algum tempo de porta aberta do congelador ou do frigorífico, ou da despensa, simplesmente olhando para o vazio, numa
tentativa de accionar “algo” no meu cérebro que me diga o que é que lá fui fazer.
5.
Esteja plenamente consciente que não quereria nada de outra forma (fora o Euromilhões)
Os meus filhos são todos diferentes, todos com personalidades muito distintas, todos capazes de fazer as observações mais extraordinárias (
algumas que vou relatando aqui).
Adoro a maneira como olham quando chego (
tarde) à escola para os ir buscar, adoro o ar de delírio e felicidade da adolescente quando lhe digo que a Avó comprou bilhetes para ela ir ver os Youtubers de quem é fã e agradece-me a autorização para ir. Adoro quando cozinho para eles e os vejo a deliciarem-se, o mais novo sem falar e a comer sem parar, o do meio a dizer “Mãe, está óptimo” ou a mais velha simplesmente a murmurar “mmmmmmmmmmmmm, há mais?!”. Adoro que os meus cozinhados sejam uma das formas de exprimir o meu amor incondicional pelos meus filhos, e por quem gosto.
Adoro pensar no Natal, nos olhares reluzentes dos mais novos, nas decorações feitas por nós em família, nas cantorias contínuas de Jingle Bells (enquanto impedimos o mais novo de trucidar todas as bolas da árvore de Natal). Adoro as conversas que ouço no banco de trás quando os levo, ou quando sorrateiramente espreito e vejo os três em brincadeiras cúmplices ou a fazer desenhos. Adoro quando apanham folhas secas do chão ou flores e vêm entregar-me, com ar apaixonado. Adoro os risos, adoro adormecer com eles, adoro ver o crescimento da mais velha. Adoro andar de mãos dadas com eles, adoro os beijos, os mimos, os braços à volta do meu pescoço.
Nada é perfeito, mas pelo menos vou conseguindo manter a casa organizada e a comida na mesa. Consigo chegar ao fim do dia viva e tenho orgulho nisso. Até que ouço “
Mãe, porque é que está iogurte na despensa?”, mas convenhamos que tem a sua graça, e dou azo a que possam gozar comigo
(com respeitinho….)