sexta-feira, 7 de julho de 2017

"E filhos, tem ou está a pensar em ter?";

Desde que fui operada há cerca de 6 meses, que aparentemente tudo o que os meus filhos têm, eu apanho.

Eu, que fazia gála de tratar de tudo e todos e resistir ao mais vilão dos vírus, dou por mim a ser atacada por qualquer mísera virose. Isto também pode ser PDI, claro. 

Ora hoje fui prendada com febre, dor de cabeça, vómitos (maravilhoso) e uma certa incapacidade de locomoção que sai fora do meu normal. Mesmo assim, ainda fui trabalhar de manhã, até básica e logicamente ser expulsa pelos meus colegas (mas com carinho). E faltar ao trabalho fez-me lembrar a forma como muitas empresas olham para as Mães (salvaguardando já que não é o caso da empresa onde trabalho há dez anos).

A C. nasceu tinha eu 20 anos, ainda em plena faculdade. Terminei a faculdade e comecei logo à procura de emprego - tinha uma pequena boca para sustentar. Não foram raras as entrevistas em que me adoraram, elogiaram, mas quando percebiam que tinha uma filha, passavam a dizer "temos muitos candidatos, depois entramos em contacto". E zero. Mal ouvia aquela frase, já sabia que tinha sido reencaminhada para o fim da filha de CVs.

Chegaram mesmo a comentar, "como é nova, ainda vai querer mais certo?" Mal dizia que seria sempre uma hipótese pomba, fim da pilha.

"Havemos de contactar".

Já sabemos como isso terminou, certo?

O que me irrita é que existe a ideia generalizada que as Mães - sobretudo as de filhos pequenos ou as mais novas - não são relevantes para uma empresa. Que, de certa forma, não podem contar connosco da mesma forma que contam com os outros funcionários.

Enganam-se.

Somos fantásticas em mediação de conflitos, temos capacidades de comunicação interpessoal acima da média. Não acreditam? Acordamos a meio da noite mil vezes, alimentamos os nossos filhos, acalmamos, tomamos conta deles. Sabemos exactamente o que dizer às nossas crianças de uma forma que mais ninguém sabe ou consegue. Sabemos como fazer para de escorrer lágrimas, tornamos tudo melhor e estamos sempre preparadas para quando acontece outra vez. E outra vez. E outra vez. E estamos em processo contínuo de melhoria, diariamente. Por alma de quem é que um empregador não considera alguém assim?

Multitasking? Comemos multitasking ao pequeno-almoço.

Conseguimos estar a alimentar um bebé, na mama ou de biberão, enquanto respondemos a e-mails, cortamos cenouras, e ainda cantamos ao mesmo tempo canções de embalar. Com jeitinho, estamos a planear as refeições da semana ao mesmo tempo. E a direccionar ordens para os restantes membros da família.




Sabemos perfeitamente ordenar prioridades.

Já viram a quantidade de coisas que conseguimos resolver em 45 minutos enquanto os miúdos estão a dormir uma mini sesta, ou estão ainda na cama de manhã, ou estão no banho? Não só acordamos mil vezes de noite, como fazemos os pequenos almoços, lemos historias, brincamos, pomos as crianças a dormir e vamos estender roupa, tirar loica da máquina, vamos ao supermercado, adiantamos refeições e arrumamos a casa toda. 

Se assim é num curtíssimo espaço de tempo, não vos passa pela cabeça tudo o que conseguimos fazer em 8h ininterruptas sem nenhum filho a chamar por nós?!

Nenhuma Mãe deixa de ir trabalhar porque está de ressaca ou não lhe apetece sair da cama. 

Somos as melhores investigadoras que alguma vez vão contratar. Acreditem, as Mães informam-se sobre tudo e mais alguma coisa ao detalhe, antes de tomar qualquer decisão. Recorremos a livros, opiniões, fóruns da especialidade. A empresa estará em boas mãos!

Aprendemos rápido, muito rápido.

Estamos a criar um ou mais seres humanos certo? E até agora, não pegou fogo a nada, ou pelo menos a nada sério, pelo menos que se saiba.. talvez este argumento seja melhor não considerar..!

Para todos os potenciais empregadores: não somos menos valiosas por sermos Mães, somos muito mais valiosas. 

E para o senhor que me entrevistou há cerca de 13 anos atrás, sim tive mais dois filhos, a loucura! 




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